Acredito que, de alguma maneira,
Deus, nesses dias nos fala sobre a sua vontade de justiça. O Brasil, é um País
de muitas desigualdades; A vontade de Deus, é a "justiça". Mais uma
tendência natural é nos deixarmos arrastar por ideologias injustas. Deus, quer
nos guiar pelas veredas da justiça. No (Sl-23:3), Davi nos afirma que Deus, em
sua vontade deseja que andemos pelo caminho da justiça. A vontade de justiça de
Deus, pode ser realizada através daqueles que se deixam guiar por ele. Em
(Mt-5:10), Jesus coloca a vontade de justiça, como um sinal do Reino de
Deus:"Bem aventurados serão aqueles que são perseguidos por causa da
justiça"
O Brasil, é um País de grandes
desigualdades; Desigualdade econômica, ou seja, na distribuição de renda;
Conforme Marcio Pochmann (2006), há uma ditadura da concentração de renda. Os
10% mais ricos do Brasil, concentram 75% de toda riqueza; E os 90% mais pobres
ficam com 25%. Desigualdade racial e de gênero, entre o negro, o branco, o
pardo, homens e mulheres; A desigualdade racial, influencia diretamente no
mercado de trabalho. O recebimento de recompensas, segundo alguns
especialistas, não se baseiam em performances ou aquisição de capacidades, más
nas ideias produzidas entre grupos sociais, com relação a diferença entre negro
e branco, entre o homem e a mulher. E a desigualdade Regional, entre regiões,
cidades e Estados; esta está nas diferenças estruturais entre sudeste, parte do
centro-oeste, o sul do País, com maior desenvolvimento industrial, técnico e
científico; Tendo em são Paulo, o polo mais alto em desenvolvimento; Enquanto
que na região Nordeste, o desenvolvimento ainda é pontual. E ainda, o regional,
é determinante ainda, para o acesso a oportunidades. Neste sentido, seguindo a
lógica, de que há ideias que ideologizam o preto, o pardo, a mulher, percebemos
que a população está distribuída regionalmente segundo a cor. A população
branca, está concentrada nas regiões mais desenvolvidas; Enquanto, que os
grupos pretos e pardos, se concentram na região Nordeste.
A justiça Social no Antigo
Testamento, é evidente; É algo cobrado por Deus; Principalmente á aqueles que
dizem conhecê-lo. Podemos perceber o valor da justiça Social, no Antigo
Testamento, tomando como referência o ministério do profeta Amós. Por que
dentre tantos exemplos, o ministério do profeta Amós?. Por que não pegar alguém
que saia de dentro de um contexto mais urbano; Que no caso, se adequa mais a
realidade contemporânea?. Porque o profeta Amós, é talvez o modelo de profeta,
mais adequado para falar a atual realidade; Cercada de interesses e mascarada
pelas ideologias dominantes; Esta sim é a realidade contemporânea. O fato não
era que ele não tinha "nada" a perder; Mais era que ele não tinha
"muito" a perder. O modelo de profeta, em Amós, tem menos chance de
se comprometer com a ideologia do poder. Em (Am-7:10-17), percebemos a aliança
de Amazias, Sacerdote de Betel, com a ideologia da corte, da aristocracia. A
teologia, já no antigo testamento legitima a injustiça Social; Ou seja, ela se
associa a ideologia dominante. É verdade, que temos referência profética, como
Isaías, que diferentemente de Amós, que era um camponês, era culto e ligado a
nobreza, a corte, a aristocracia; Mais que não se partidarizava em favor da
corte, mais a favor da justiça. Em (Is-1:10-20), Isaías, inspirado por um
espírito de justiça, defende os órfãos, as viúvas, os oprimidos; Bem como
denuncia os exploradores da corte, assim como também a máscara do clero. E é
verdade que temos ainda hoje este tipo de caráter profético, mais são exceções
raras; Geralmente é preciso não ter muito a "perder", para se
comprometer com a verdade profética. Amós, hoje, pode ser o modelo de profeta
eficaz, contra a injustiça. A partir do texto, (Am-7:10-17), ele representa
alguém que está culturalmente a margem do sistema da corte. Há aqui, um
preconceito a origem humilde do profeta. Ele representa o excluído, o
marginalizado. No sistema de então, ali do contexto de Amazias, não pode um
profeta com tal origem; Sociologicamente, sua permissão para a profecia, é
apenas um discurso de inclusão. Dai Amazias, o sacerdote de Betel,
desclassificá-lo, desqualificá-lo, o chamando de conspirador contra a
corte; Mandando-o assim profetizar lá em Judá; Claro como fugitivo, a margem;
No seu devido lugar, no entendimento da mente ideologizada de Amazias. Mais nos
(vs-14,15), Amós, se declara emancipado das tradições institucionais
proféticas, dizendo ser ele, não profeta, não filho de profeta, mais um boieiro
e agricultor, chamado por Deus, para profetizar a Israel. Existe três formas de
exercer o ministério profético no antigo testamento:"Sendo aluno em uma
escola-(2Rs-4:38); Sendo filho de um profeta-(Am-7:14), e sendo chamado por
Deus-(Jm-1:5). Amós, foi chamado por Deus; O Senhor o tirou do ofício de
boieiro, e o mandou profetizar para Israel. Nos (vs-16,17), observamos, que sua
emancipação, das formalidades proféticas institucionais, o possibilitou a
profetizar com liberdade aquilo que Deus, lhe mandava; Livre de
condicionamentos da corte, ou do clero. É interessante, como Deus, escolhe
muitas vezes, para a realização de uma determinada missão; Talvez um camponês
para uma mensagem, contra a imoralidade, socialmente se justificasse; Mais para
uma mensagem voltada para a injustiça Social, e diretamente para as classes
dominantes; Ai já não tem. Claro, para mentes ideologizadas, como a de Amazias.
Deus, escolhe alguém estratégico, para levar a sua palavra, num contexto,
marcado pela injustiça Social; De acúmulo(Am-3:10), de suborno da administração
da justiça(Am-5:12), De controle do comércio(Am-8:4-6), Religião
institucionalizada para mascarar a injustiça(Am-7:12,13), de conluio entre os
que detém o poder econômico, político e jurídico; Logo, a opressão do pobre e
dos mais fracos. Amós, destemidamente anuncia o fim de Israel, por seus ricos
oprimirem os pobres, e os poderosos manobrarem a justiça e o direito; Assim
como também, anuncia o desmantelo e a vergonha da religião legitimadora da
injustiça Social(Am-7:17). Amós, em sua crítica social, denuncia, os corrúptos,
mais foca mais no sistema, na estrutura que gera pessoas corrúptas. Ele entende
que a causa fundamental, da corrupção tem haver com estruturas
politico-culturais e religiosa, motivada por interesses econômicos. Contra esta
corrente Amós, se posiciona dizendo: "Odeiem o mal, e amem o
bem".(Am-5:15).
No Novo Testamento, principalmente através do
ministério de Jesus, percebemos o valor da justiça Social. O ministério de
Jesus, se dar num contexto, marcado pela injustiça Social. Numa cultura
greco-romana, e sob o império Romano, Jesus, levava as boas novas. Os poderosos
cobravam pesados impostos do povo, que na maioria era de camponeses; Para a
ostentação do império. Por causa disto a vida do povo era precária e dura. A
religião era conveniente, e também tinha suas taxas. O povo refletia e muito o
modelo cultural do império, em seu comportamento; Este era pouco solidário e
aceitava a injustiça. Jesus, em seu ministério, contraria tudo isto, com seu
ensino sobre solidariedade e justiça social. Ele foi crítico para com a riqueza
não compartilhada, mais fruto da avareza(Lc-12:13-21). Ele ver numa riqueza não
compartilhada, loucura e não sabedoria. É no ser rico para com Deus, que está a
sabedoria dizia ele. Ele se apresenta no novo testamento, como aquele que veio
para anunciar as boas novas, aos pobres, aos oprimidos, aos
marginalizados(Lc-4:16-19). Na visão de Jesus, aqueles que querem trilhar o
caminho do Reino, devem ser capazes de ter uma autocompreensão do que seja ser
justo(Lc-12:57). Para Jesus, um bom julgamento da vida, das coisas do reino
requer uma visão espiritual. Os fariseus, por causa de suas mentes e corações
endurecidos pelo pecado; Interesse próprio, justiça própria, não conseguiam
entender do que Jesus, estava falando. Bastava que eles realmente fossem justos
acerca dos sinais que Jesus, fazia, para entender o tempo do reino de Deus;
Mais eles eram carnais, interesseiros, indiferentes ao tempo de oportunidades,
em que viviam, para se arrependerem e reconciliar-se com Deus. Sim na visão de
Jesus, a vida comunitária, a vida Social, para que nela haja solidariedade,
justiça social, é preciso que cada um que faz esta comunidade saiba
julgar(Jo-7:24). É comum nós julgarmos os outros, segundo os nossos interesses,
segundo a aparência; É comum a injustiça Social como vício. Jesus, sentiu isto
na pele; Foi caluniado, desclassificado, desqualificado. Por que?. Por falta de
consciência daqueles que o julgaram mal. Faltou consciência e autoconsciência.
Faltou objetividade. Faltou a reta justiça. É difícil não ter alguém que não
seja culpado de ter cometido injustiça, por errar no seu julgamento para com o
outro; São muitos os injustiçados por julgamentos errados. Como discípulos de
Jesus, precisamos ter habilidade para julgarmos o outro, sob pena de cometer
uma injustiça. Em (Jo-7:20), percebemos que Jesus, foi demonizado, pela
coletividade; Ou seja, uma multidão emitiu a idéia de que Jesus, estaria
endemoniado; O que é um equívoco coletivo. Mais o que está por trás, de tamanho
equívoco?. Seria uma multidão consciente, ou influenciada para pensar assim?.
Ideias acerca dos outros podem ser mera fabricação.
Analisando uma possível vontade de
justiça Social, no atual contexto, a complexidade do ser justo, do fazer
justiça, no antigo e novo testamento, a fala de Jesus, sobre as implicações
para quem deseja ser justo, não pude fugir do idealismo de Hegel. Por que?.
Porque até, quem desdenha deste, é mais idealista, do que o confesso. É razão,
a partir de uma centralidade da subjetividade. Ou centralidade do eu. A relação
com o outro, é sempre relação sujeito-objeto. É sempre relação que objetiva
condicionar o outro. Nas relações, inclusive na coletiva, social; Hoje mais do
que nunca, a centralidade da subjetividade, do eu; Depois de muito tempo desta
fala de Hegel, esta subjetividade do sujeito, na apreensão do objeto; Seja
saber, seja instituição, seja o social, seja o homem; É mais forte do que
nunca. A consciência que se pode ter do outro como objeto, é a consciência do
que ele “representa”, para o sujeito da relação. É uma apreensão subjetiva; O
sujeito imprime a sua subjetividade, no outro, que está sob sua consciência. Em
Hegel, para uma objetividade do conhecimento, é preciso consciência da
consciência; Ou seja, não está na apreensão do objeto em si; Da forma como ele
é, como ele aparece; Mais através de uma autoconsciência. Ou seja, é preciso
ter consciência de si. É preciso saber o que leva apreender o objeto, de tal
forma, ou de tal maneira. Nesta concepção, o coletivo é o encontro dos
sujeitos, com percepções diferente, que lutam por reconhecimento; Gerando assim
um problema, que só pode ser solucionado
assumindo um ponto de vista objetivo; Julgando imparcialmente seu próprio ponto
de vista; Autoconsciência. Em Sartre, a
relação sujeito-objeto, é necessária, quando nesta relação; Sujeito e objeto,
se revezam; Se reconhecem como sujeitos; Outrora como objetos. Mais a relação é
dominadora quando alguém se fixa como sujeito; E claro para isto, se abre mão da solidariedade e da justiça, para
lançar mão de ardis perversos. Tanto na perspectiva de Hegel, quanto na de
Sartre, a relação com o outro objetiva de certa forma parasitar o outro; E a
técnica é uma linguagem que cria dependência, que explora naturalmente o outro.
Logo, como nossa teologia pode ser libertadora, num contexto, onde o sujeito da
relação; seja o homem, seja a Igreja, seja a Instituição tal, imprime no então
objeto, o seu eu, sua subjetividade, sua vontade?. Eu diria em primeiro lugar,
que uma teologia libertadora, é contextual, é local. Ela nasce a partir de
necessidades do contexto; Mais atualmente, geralmente, esta é incorporada ao
contexto, por sua fama; Ou seja, aquela que deu certo em algum outro contexto,
talvez até como palavra de Deus, para tal realidade; Dai reconhecimento e fama;
Esta passa a ser buscada por vários outros contextos; que passa a ser um tipo
de teologia-ideologia. Uma destas teologias, que ainda está na vitrine hoje, é
a chamada teologia da prosperidade. Uma teologia assumida apenas por sua
funcionalidade em outro contexto; Ou seja, por sua fama, pode até funcionar,
atrair as multidões, mais dificilmente esta estará comprometida com a
solidariedade e a justiça, tendo em vista, que o senso de justiça exige diante
de tal subjetividade, consciência e autoconsciência. Sem autoconsciência
dificilmente se enxergará os objetivos de tal teologia; Sua manipulação, sua
dominação e consequentemente opressão; Mais apenas sua funcionalidade, seu
pragmatismo; Entenda, eu estou falando que, em meio a tudo isto, há uma vontade
de justiça, por parte de Deus. Em segundo lugar, uma teologia libertadora, deve
ter o Cristo como central. Não quero aqui negar o valor do pragmatismo
teológico, fruto primeiramente, de um certo desuso da razão dedutiva. Aquela
razão fundamentada apenas no discurso, teorética; Mãe do conservadorismo e de
muitos dogmas. Fruto também da demanda da Cidade grande, da megalópole. Mais o
pragmatismo muito tem contribuído para uma teologia sem a centralidade do
Cristo. Sim, este que propiciou a Igreja, do Deus vivo. A Igreja viva, corpo,
onde Cristo é o próprio cabeça. O resultado de uma teologia sem a centralidade
de Jesus, é uma Igreja, sem solidariedade, fria no amor ao próximo. O resultado
é uma Igreja, profissionalizada para fazer, mais não para servir com responsabilidade.
A falta de centralidade de Jesus, na
teologia, faz com que a causa do evangelho, não seja vista como missão,
mais em muitos casos, como uma estratégia humana, em benefício próprio. O
pragmatismo valoriza acima de tudo aquilo que funciona, que trás resultados.
Ele em muitos casos, não leva em conta o que é certo, o que é princípio. Dai
muitas vezes passar por cima de princípios fundamentais. A centralidade de
Jesus, na teologia, trará o amor para o centro, o serviço como
responsabilidade, para o centro.
Então, a vontade de justiça de Deus,
é um sinal do Reino de Deus; A vontade de Deus, é que andemos pelas veredas da
justiça; Mais andar por este caminho implica muitas vezes andar longe dos holofotes;
Implica ser perseguido. No atual contexto sociopolítico, é preciso se
posicionar. Em um contexto parecido com o nosso, Isaias se posicionou a favor
da justiça, Amós se posicionou a favor da justiça.
Roberto Mota.